O que não existe...
Nos dias em que a nossa memória se fecha na espessura inabalável do silêncio
E que os líquenes das casas se quebram de encontro às ruas vazias
Onde os nossos olhos avistam a costa quântica dos aromas de corpos nus
E lá longe...muito ao longe despertam milímetros de enternecedoras praias
E nos ermos dos valados a solidão é uma fragrância de medos escuros
Onde os corpos já não pertencem aos dias nem às cores dos deuses
Lá onde o medo é uma fera encurralada na maresia da noite
E no centro dos nossos olhos há uma muralha de gente ancorada nas docas sem história
Furnas de diurnos sátiros encolhidos no limbo do escuro
Bocejos de sonho e tempo que se revelam na mão adormecida dos anjos
Piares de morte de corujas estelares...acordar de temores e arder de tempos
Que se libertam nas folhas delgadas das facas
Que cortam as escorrências perfumadas das frutas maduras
Com o seu hálito de fome aberta aos instantes sonoros do que não existe.