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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

O sal do mundo

E nessa hora em que as cigarras embalam a tarde...nasce em mim uma modorra de paz. Todas as coisas têm as proporções perfeitas. Tudo ganha a clareza de um voo de pomba. Tudo é um desenho de pele e espaço. E tudo é um disparate. Ao fim e ao cabo tudo é uma névoa soalheira que se entranha na alma. Uma aguarela de Gameiro. Um encolher de ombros. Um não olhar para trás. Um sarcástico lá sustenido. Um envolvimento momentâneo entre o espaço e a alma.

 

Uma coisa é a sujidade dos dias. Outra... é uma cama quente. Uma coisa é uma árvore cortada. Outra...é o roçar entreaberto das bocas. Uma coisa é a imobilidade de uma águia. Outra...a frase abafada do amor. E depois...quem não quereria rasgar a noite e abraçar-se a todas as estrelas? Quem não quereria aventurar-se muito para além de si e conhecer todas as fontes da imaginação? Quem não quereria saltar para os braços de alguém e renascer para uma nova vida? E sentir aquele arrepio de primavera quando as andorinhas voltam aos beirais. E sentir que realmente não há uma fronteira entre o caos e o amor. E sentir que a chuva trás consigo a estética do aconchego. E que um homem é mais que uma escola. É um compasso de mundo inviolável. Uma escolha. Uma origem. Uma língua. Um jogo e uma fronteira. Um esquecimento e um caminho. Uma metade sombria e outra um jacto de vento. E mais que tudo é o inevitável sal...do mundo.