O sol salta sobre mim
Penso no cais longínquo que me espera
Nas hortas...nos bocejos
Resisto aos dias
Fecho-me numa equação sem fim à vista
Se a pedra onde me sento for mágica
Então o sonho cintilará
E à força da magia
Os poços darão frutos
E as crianças não se afogarão nas nossas histórias.
O ciclo dos olhos distende-se para além dos retratos
Os rostos cabem dentro da chuva
E o sangue das memórias
Corre pelos grãos suspensas sobre praia
Húmidas manhãs cantarão dentro de nós
E o sarro das saudades já não nos trespassará a alma.
Vem até mim a sombra dos rostos infinitos
O choro de um mineral calcinado
Tudo se conquista
Até os vidros embaciados nos falam da mortalidade
Junto à chuva vejo poemas
Dobro-me aos sonhos
Que são como voos de crianças cintilando nas avenidas
Perfuro o cansaço
Acedo à epopeia dos descalços...magoo-me...reflito
Volto a cara para a gestação dos meses
Mar e mais mar...sol a pino...poeira de salmoura
Ah se eu pudesse brincar com a ilusão de ser leme
Partir as ondas...lembrar-me do meu corpo
Ser um desejo ou uma lembrança
Mas nunca mais vou temer a vergonha de não ser brilho
Disseram-me para olhar os barcos
Ver nas estrelas salgadas..a viagem das conchas
Mas o sol salta sobre mim
Empurra-me para a minha própria suspensão
E na iridescência salobra do fogo que me consome
Acordo dentro de uma sombra.