O tempo dobra-se
Afrouxo os olhos
O sonho penetra-me como uma sede feita de seiva
São horas de invadir a vida e quebrar o núcleo das bocas.
Na inclinação das casas vejo a assombração das horas
Nos fragmentos do medo brilham planetas frios
O tempo dobra-se
Cisma que é uma névoa a perguntar pelo inverno
A música grava-se nas palavras
Os dedos tecem artísticos trinados
É a hora das despedidas
O tempo arde lentamente
Desintegra-se numa gradação de palavras arrefecidas
Nada lamento..o absoluto é agora
E a alucinação corrói à velocidade do ciúme
É possível fingir que as mãos tocam em doces sonhos
Requebros de amor transparente
É possível que os dedos se agarrem aos moluscos
E as prisões se cansem dos choros
É possível que um pensamento abstrato
Desenhe faisões sobre os tinteiros
E que as flores se cansem de ser exóticas
É possível que o núcleo das horas
Se desintegre numa explosão de lírios
E que as visões avassalem os homens cansados
De suportar batinas e sotainas
Porque por dentro dos corpos
Lateja o fogo dos círios...
Como se fossem a alma cinzenta da salvação.