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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

O testamento de Maria Helena Vieira da Silva

capa 32.jpg

(Arraial 1950 foto extraída do livro( minha pertença) Vieira da Silva de Jacques Lassaigne - Guy Weelen)

Testamento

deixo aos meus amigos

um azul cerúleo para voar bem alto

um azul cobalto para a felicidade

um azul ultramarino para estimular o espírito

um vermelhão para que o sangue circule alegremente

um verde musgo para acalmar os nervos

um amarelo ouro: riqueza

um violeta cobalto para o devaneio

uma garança porque deixa ouvir o violoncelo

um amarelo bário: ficção científica, brilho, esplendor

um ocre amarelo para aceitar a terra

um verde Veronese para a memória da Primavera

um índigo para que o espírito se ajuste à tempestade

um laranja para treinar a vista de um limoeiro ao longe

um amarelo limão para a graça

um branco puro: pureza

terra de Siena natural: a transmutação do ouro

um negro sumptuoso para ver Ticiano

uma terra de sombra natural para aceitar melhor a melodia negra

uma terra de Siena queimada para o sentimento da durabilidade

 

Maria Helena Vieira da Silva

in Antonio Tabucchi - Estórias com figuras

P.S. - belo é o testamento de quem deixa memórias coloridas...e belo também é quem pinta os seus amigos com as suas memórias.

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