O teu olhar?
Gasto-me como se fosse uma nuvem
Flutuando sobre um tempo gasoso
Caminho sobre um abismo de ar sólido
Enredado na recordação do teu rosto
Visto a camisa apertada dos aflitos
Mas faltam-me os acontecimentos distantes
Sou inconcreto...sou um olhar...o teu olhar?
Não posso ser feito de serenidade
Porque carrego o tempo
Como um companheiro interdito...
Nada nasce da verdade
Assim como nada morre com a mentira
E o tempo...foi meu amigo
Contou-me o enredo de todas as farsas.
Disse-me que nada me faltaria
Na hora em que eu acreditasse nele
Disse-me que me dissolveria...literalmente
Como uma verdade escorregadia
Disse-me que as recordações
Que trago arrastadas na garganta
Seriam engolidas mal conhecesse as coisas inúteis
Nada pode ser feito de coisas inúteis
Assim como nada pode ser desfeito
Das coisas amadas...
Nasci de uma pequena oportunidade no tempo
Um rasgão umbilical
Uma prece feita de palavras esburacadas.
Que acontece a quem escorre pelos dias...