O útero de tudo
Pensei que caminhava sob um profundo céu imaculado
No eco da minha voz escutava a prisão da imensidade do espaço
Estendi-me como um morto que absorve o nada
Despi-me dos meus desgostos
Manchados de sangue coalhado
E todas as coisas me pareceram venenos coloridos
Vagas de marés vazias a estilhaçar no absurdo dos dias
Então entreguei-me
O gelo das minhas mãos espevitou a vida
E soube que o Inverno era uma sombra desmedida
Percorrendo o espaço dentro de mim.
Pequenas coisas...presságios...outros mundos
No desconhecido libertamos as perguntas...há magia
Os olhos percebem que cedo chegará a luz do dia
Que o espelho inverterá a sua sombra
E que do escancarado da penumbra surgirá um corpo
Como se fosse o centro de coisa nenhuma
Ou o útero de tudo.