O vazio da espuma
Em redor de mim a chama do silêncio anuncia o dia
Do chão molhado ergue-se o perfume da terra ressequida
A lua traça labirintos nos caules dos poejos
E nesta pureza de verde e prata
Tudo me liga ao mundo
Tudo me diz que sou mar dividido
Mar entrelaçado com o luar que me agarra
Mar de pedra e de gesto perdido
Mar de mãos que escorregam no corpo da chuva
Mar de brancura e enseada
Onde as aves se apartam das ilhas e dos ventos
E onde o meu corpo galopa no cadafalso das artérias
Como um papel rasgado pela escultura do tempo.
Aliança de teias e rostos de mármore rosa
Sozinho...acoitado numa prece pintada num naufrágio
Onde navega a noite e o vazio da espuma
Onde os homens se resgatam nos cálices do infinito
Com rostos imóveis...com floridos destinos
Com intensos clamores de mãos
A agarrar a fúria das tempestades
Que por eles se roçam...que por eles passam
Como imagens de abismos rugindo
Por dentro da sua alma
Feição de calma... e raiva...