Oiço um pássaro
Estranho ponto pousado
Entre o espaço e o rio
Sou eu?
Ou é a luz a desafiar-me para a longa viagem das aves
É o silêncio das veredas?
Ou é a estrada a dizer-me....vem!
Mas eu alastro...
Alastro por dentro da chuva
E dos olhos que não me vêem
Alastro por dentro de todas as fugas
E de todos os ventos
É sempre assim...quem fui?
Que espera inunda a minha alma feita de noites?
Se corro por entre a vida e a morte
Que distância fica entre mim e a minha alma?
Há uma cisma na lua
Há uma ausência de mim na chaga dos dias
E há um charco de onde não se foge
Brincamos nos olhos dos outros
E quando a primavera chega...florimos
Como narcisos...como desertos
Como fomes de sermos outros
Ninguém vê nem ouve
Os demónios que nos invadem
Ninguém sente as finas redes
Que nos tolhem as asas
Ninguém percorre a distância
Que nos cobre de negro
Oiço um pássaro
Ou será um poema de Celan que esta ave anuncia?
Por entre a amargura do tempo
Reparto-me em agudas lâminas
Por entre o espaço de um segundo
Vivo a plena eternidade!