Olhamos a profundidade do horizonte...
Estamos no topo da página que cruelmente nos fala do que já não somos
Estamos no cimo assombrado de uma certeza que se esborracha na nossa cara
Vemos os sorrisos que se cruzam nas esquinas incolores
Vemos a imundície dos corpos a derrapar nas avenidas..a cruzar as ruas...a cair de tédio
Olhamos a profundidade do horizonte...a todo o custo queremos saber se já somos outros
Queremos saber se a fantasia ainda se agita na nossa imaginação
Se o nosso corpo ainda é uma obsessão adolescente
Se os nossos olhos ainda queimam as rosas dos dias
Se os nossos olhares ainda baloiçam nas vagas de um mar sagrado
Se no fim das ruas não está a derrota..cruel...voraz...inconsentida
E sabes que não queres ser um naufrágio sentado numa cadeira de baloiço
Sabes que ainda agora sangraste o medo de seres lágrimas e choros
Sabes que a tua vida vai desaguar num lago
Perdido e cego por uma visão lunar..apocaliptica
Sabes que a tua vida seguirá em todos os sentidos...
Que a chuva que te encharca cairá em todos os lugares
Que das profundezas do mar se erguerão vagas de veludo..
Adocicadas irão lamber o teu corpo insatisfeito...
Como imperceptíveis tatuagens que te dirão que chegaste à saliva das ilhas
E que sobreviveste ao assombramento acerado das flores
Como um profundo sonho..magoado pelo uso dos dias difíceis
Envelhecido nas imagens de fotos antigas...
Vês o teu futuro...vês essa coisa que se agita para lá de todos os teus sentidos
Vês esse sangramento de solidão ...ancorada nos barcos saídos da infância
Que descem os rios..contornam os cabos...
Da boa desesperança....