Olhar de menino
Tirei de mim todas as ruas da cidade
Fitei o vazio do cais e depois...
Imaginei-me a esculpir uma trança de estrelas
Com bocados de pássaros azuis...
Imaginei um destino encostado ao umbral do meu silêncio
Imaginei um rasto de noite a enfeitar o vazio dos sonhos
E depois...nada...mais nada...mais nada...
Ah! Mas antes disso...
Carreguei a noite com pétalas de pele arrancada aos espelhos...
Eu sei que habito o voo amargo das borboletas
Eu sei que me enfeito com nuvens de pedras acesas
E todas as noites desapareço na fenda das estrelas
Enquanto o luar se esmaga num ritual de garras afiadas
E eu me perco no desequilíbrio que se agarra ao lajedo da minha alma...
Neste longo este escorregar pela febre dos pinheiros
Pairar no sono...brilhar no encanto da noite sem retorno
Cheirar o chão e de súbito...
Despedir-me das folhas amareladas dos castanheiros....
Enfeitar as ruas com mundos sem sentido
Ter nas mãos o sangue do destino
Olhar a morte como quem vem ao mundo
Sentir o eco de uma floresta alheia a quem passa...
E pintar com musgo...o meu olhar...de menino...