Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

olho os meus sapatos...

depositphotos_4233548-stock-photo-old-boots.jpg

 

olho os meus sapatos...penso..que valem uns sapatos?

a vida não se mede pelos sapatos..a vida mede-se pelo comprimento do mar

a vida tem o tamanho do pão que comemos..dos sons..dos odores

quero construir um tecto com palavras...penso na sorte de haver quem me escute

fantasmas povoam os meus olhos..

mas eu sento-me na minha irreal praia lusitana..junto uns pedaços de letras..e fecho os olhos

acho que a realidade é uma dor inútil..uma junção de equações...vírgulas e espaços em branco

há tantas coisas inúteis que juntamos dentro de nós...algumas são raras...outras...bem..outras são apenas passadeiras onde atravessamos para fugir das coisas que nos magoam

devia haver um sinal de stop em cada esquina...como se fosse um sinal para abrandar o pensamento

ou para continuar a fugir à lei do silêncio

o nosso drama....é que temos que olhar de frente para os dias..perguntar-lhes pelas manhãs de ressaca

hoje ninguém quer acreditar nos abismos...preferimos olhar para a insatisfação com olhos de sonhar

mas uma vida..é tudo o que conseguimos ter de nosso..e não é pouco...

apesar de tudo passamos pelo frio dos dias como quem vai para um banquete

embalsamamos a imagem de felicidade..amamos as ruas..percebemos que dentro de nós há uma criança desamparada

sentimos que há que fazer qualquer coisa...não ficar a olhar para os sapatos...

escrever sobre a sopa dos pobres já é alguma coisa...mas acreditar que Deus é uma fantasia...também faz parte de nós

eu que passeio a minha ingratidão pelos corredores... não esqueço que a morte está ali fora...inteirinha... à minha espera

e como quem não quer a coisa..disfarço-me de floco de neve...evoluo pelo ar..

é agora que me vou despedir da minha fraqueza de ser poeta..tiro os óculos..era bom que visse sempre as coisas desfocadas

será a realidade a desfocação da irrealidade? penso em tudo como se me visse dentro de uma caverna

nada disto é original...já Platão fez o mesmo...agora eu só quero que a rua não me atraiçoe

que não tropece..ou que merda de pombo não me caia em cima..sei lá..já me aconteceu uma vez

olho novamente para os sapatos...verifico os atacadores...é tempo de ser forte...