Onde as almas se unem
Navego nos murmúrios de um cântico
Náufrago de ventre rasgado...aquática noite
Dormem comigo vestígios de estrelas cadentes
Metais talhados com sabres calcários
Céus enfurecidos abrem-se
Como ostras esburacadas
Escorrem por entre os pulsos
Iluminam a morte dos peixes
Erguem-se como deuses
Pensam como estrondos
Morrem como dedos cobertos de areia
Já não querem desvendar segredos
E caem as árvores apunhaladas...esquecidas
Pedaços de tempo ecoam nas salas vazias
Pés descalços que penetram no interior da cidade
Lembro-me de ti
Esquecida num remoto espelho
Rasgando luas..fogueiras baças
O rio murmura algures...abraço-te
Das pedras saem imaginários segredos
Ouro falso...desastre...inundação de verde
Enfurecidos peixes rondam
Pela humidade do coração
Submersos numa saudade de cristal.
Irei contigo...
Serei o teu acompanhante inacessível
O teu caos submerso
A tua lua calcária
E virás... como uma explosão de vento
Como uma ave construída com águas revoltas
Serás areias e coxas
Deslumbrante ponte sobre o meu corpo imaginário
Enfurecida insónia
E virás...
Caminhando sobre o meu desastre
Acompanhando os meus vestígios …
Como uma saudade esculpida numa pedra morta
Ou um náufrago descrente da luz
E mesmo que das árvores mais altas
Se despenhem gargantas...
Que das flores mais temidas se rasguem gestos
Serás sempre a minha luzidia estrela
O meu rosto lunar
O meu resfolegar de manhã enevoada
Onde se rasgam as luzes
E as almas se unem!