Onde as aves se perdem...
Ali...ao longe...
Vejo o versátil mistério de um sono que ondula no perfume dos segundos
Ali...ao longe...
Vejo-me como quem respira pelo voo das águias
É manhã...e cai sobre mim um ar gelado...velado...
Como se na indefinição dos céus o meu corpo de homem ondulasse na aragem
E depois...as memórias fluem....os braços não abraçam ….os dedos desesperam...
E depois...os sentidos são como orquestras desafinadas
São como correntes presas ao sonho das colinas que além espreitam
Fino é o galho onde o meu corpo se prende
Fina é a melancolia que se arrasta pela velatura dos sonhos
Há nuvens...há cantos...há sombras ensimesmadas que se alojam no meu corpo
Sou a gora o respaldo do mistério que ondula na roda do amor
Sou a respiração e o voo dos cabelos ao vento
Sou o fio que apruma o meu fantástico sonho de fantasma
O toque leve do temporal que lava a planície distante
Espreito por dentro do vento...que invento...
Comparo-me com a invernia que despe as amendoeiras
E com a terra vazia onde as mãos não tocam
Comparo-me com o fumo que baila na praia vazia
O aço do meu rumo... quebrou-se
O titânico esforço que fiz para traçar o meu retrato sem rasuras...afundou-se
Desatei os nós do destino...perdi a minha raiz...
Sou agora...apenas uma pedra que se afunda no lago caótico dos dias
Como se vivesse na antecâmara de mim
E os meus lábios fossem instrumentos impassíveis....colossais...
Que nasceram de um impossível deserto
Onde as aves se perdem...e o cinzento desabrocha...