Os contornos das sombras
Pega no teu medo e leva-o contigo aonde quer que vás. Cola-te ao mundo. Dá um passo em falso. Percebe a tua solidão...porque a vida é um absurdo beliscão na face. Espreita pela brecha da tua parede. Tu és quem vem do fim das águas. És quem enverga a amálgama do tempo. Sobreviveste às lágrimas da noite e ao cheiro da crueldade. Tens em ti todos os tempos dos verbos. Todas as melancolias. Todas as preguiças. E se os olhos se humedeceram e voltares a casa de mãos vazias...continua a andar... e espera...que uns olhos nasçam na superfície da lua.
Não te guardes para o que não consegues dizer. Acena. Avança pela largueza do mundo. Cores colossais esvoaçam num riso de prazer. Contam uma história. Depositam-se em cerros de esperança. E sabes que és como as estradas. Tens a idade do pó. E a indefinição dos gatos. Sabes que o riso dos pássaros é a despedida da noite. E que uma sopa quente aconchega a alma...quando os contornos das sombras descem pelas paredes.