Os erros da criação da zona euro
Estamos perto de assistir a uma nova amostragem das divisões europeias. Os do norte chamados de frugais, ( que é uma outra forma de dizer egoísta), e os do sul,( os gastadores). O texto abaixo debruça-se sobre as condições de criação do euro. É importante que perante o panorama que agora enfrentamos, recordemos como foi criada a zona euro.
Em apoio dos seus esforços para criar uma divisa comum, os responsáveis políticos europeus elaboraram uma narrativa simples e em que eram só facilidades. Alegaram que o uso da moeda única baixaria o custo das transações, traria benefícios ao turismo e ao comércio externo e traduzir-se-ia em mercados financeiros mais integrados e eficientes. Foram publicados panfletos em que europeus felizes defendiam o euro, enumerando as vantagens atrás divulgadas. No entanto esse material de marketing era omisso sobre o comportamento do sistema em tempo de crise, omitia a análise do custo resultante das taxas cambias fixas face a um choque económico negativo,era omisso no debate sobre como seria realizado o ajustamento no futuro depois de inviabilizados alguns dos mais importantes amortecedores económicos dos choques macroeconómicos. Poucos foram os países onde tenha decorrido um debate sobre como seria realizado o ajustamento no futuro. O grosso da discussão centrou-se na cedência de soberania e restringiu-se a estimativas mais ou menos aleatórias sobre os potenciais benefícios de crescimento que o euro havia de gerar.
Entretanto nos círculos académicos a dúvida alastrava. Antes da criação do euro vários economistas consagrados sublinhavam os seus defeitos de nascença. Diziam que era um regime monetário suboptimizado destinado a um conjunto de economias muito diversas e que não estavam congregadas numa união política forte. Na verdade a UE era composta por países com grandes diferenças culturais e macro económicas. As divergências económicas que tornariam ineficaz uma política monetária comum era um risco considerável. A Europa possui barreiras de língua, a mobilidade laboral é reduzida e a flexibiliadade característica de um cambio fixo, podia em caso de choque tornar-se extremamente negativa. O Bundesbank tinha um estudo em que estes custos associados a uma divisa inflexível revelavam que a união monetária não seria uma boa ideia em termos económicos, os funcionários do Bundesbank defenderam essa opinião, mas a decisão foi política, já estava tomada e Helmut Kohl descartou a opinião económica. Em resposta argumentava que ainda que as economias da eurozona não fossem inteiramente convergentes, aquando da criação do euro, haveriam de convergir completamente uma vez que aderissem, ou seja, com a ajuda dos países mais fortes, os países mais pobres ficariam mais ricos e mais produtivos. Quase nenhum dos países que entraram na eurozona cumpriam os critérios de Mastricht, casos da itália( com a maior dívida pública europeia), Bélgica e até a Alemanha recorreram à contabilidade criativa para mascarar os pontos em que não cumpriam os estabelecido. No final apesar de matematicamente os critérios estarem cumpridos, não havia convergência das economias.
O objectivo da integração europeia teve prioridade sobre o debate aberto e a análise económica sólida. Por mais voluntarismo político que houvesse isso não bastou para alterar a realidade económica. O tempo viria a mostrar que a união monetária prematura e incompleta se viria a transformar numa fonte de graves tensões económicas entre países da zona euro, ao arrepio das intenções fundadoras, a moeda comum acentuou a instabilidade política na Europa.****
**** Baseado em A queda do euro de Jens Nordvig