Os lírios esperam por nós
Digo-te onde ficam os campos
Digo-te as minhas razões
Os dias são facas de cores garridas
Ferem a luz...
São remotas praias onde vão ancorar os nossos dedos
Castelos estrangulados pela noite
Areia e maresia...
Medusa aflita presa no areal
Teremos sempre uma pequena lua na saudade
Teremos sempre um sorriso puro
Ou um desejo perfumado
Sabes que o tempo muda as cidades
Que extingue o canto do mar
Que expande nos sinos cristalinos
Gravo no teu peito gargantas incendiadas
Puros cantares de humildes algas...vinhos raros
Das minhas cordas vocais
Pendem cantos estrangulados
Febres pisadas...nomes de coisas impuras
Deito-me junto ao misterioso canto dos búzios
Visto-me de diáfanos bordados...sou mar
Encanto-me com o perfume das dunas
Respiro noites assombrosas
Recordo-te nas aves
Espalho estrelas pelos caminhos
Como beijos de águas alegres
Ou como frestas nos dias
Incêndios espalham-se pela noite
Estrelas caem nas ruas
O entardecer é gélido
E no fundo dos ventos
Ecoam beijos de crianças esfomeadas
Rios do Tibete...Ganges esféricos
Iremos ao encontro do verão
Beijaremos o fundo dos vales
Seremos barcos perversos
Mas vamos construir a alegria
Com fomes bordadas em seda
Uivos rápidos de mastros decadentes
E vamos saborear todas as flores primaveris
Os lírios... no campo
Esperam por nós!