Os lugares onde temos que chegar
Quem eras? O que buscas hoje? Em que mármore assenta o avesso de ti? Emergiste de algum lugar? És o discreto retrato de uma vida sem história. Poderias ter sido o que quisesses...mas gastaste o tempo. Poderias ter sido mais que um corpo que percorre um mapa imaginário. Poderias ter sido mais que um emprego. Tivesses tu nas mãos esse astrolábio que indica que todos os sonhos são possíveis. Que todas as possibilidade estão na tua rota. E talvez fosses o mesmo...mesmo sendo outro. Raspa essa argila que te cobre. Esgota todas as verdades...mesmo aquelas impossíveis verdades que não são mais que saliências dos dias. Deixa que o vento te empurre em todas as direcções. Dedilha a tua bússola como quem se gasta. Desmesuradamente. Furtivamente traça um irónico cenário no espaço e sobretudo não digas que a tua ausência não tem esperas. Não penses nisso. Há sempre alguém que não nos espera...assim como há sempre uma espera na espera de alguém.
Percorre os teus caminhos. Obstinadamente. Procura esse país de estátuas e enxofre. Esse inacabado perpassar de rotas de todos os dias. Não interessa o que quiseste. Não interessa o que tiveste...nem o que tens. Só interessa que chegues a essa ilha onde os dias andam em derivas de luz e paz. Respira como um animal que não percebe a vida. Planta o teu trigo e derrama-te sobre as adversidades. És o estremecer das árvores. O calor excessivo do estio. O instante. A mácula. Disfarças como quem espera o barco que não chega. E sabes que a tua alegria vive na ânfora que está escondida num lugar feito de muros e de falésias. Um lugar onde tens que chegar.