Os passantes...
Estes que passam. Aqueles que passam. Todos pisam as mesmas lajes gastas pelo silêncio. Todos sentem os restos dos dias encravados nas ruas desertas. Um esforço. Só mais um esforço. Para subir essa íngreme escada de pedras ancestrais. Esses que olham e se sentam nos jardins. Esses que pisam as folhas que o inverno abandona. Esses que acarretam a invisível cinza do tédio. Esses cujo tempo lhes corroeu a feição da alma. A esses que crescem em imutáveis humidades e bolores. Que tecem teias grotescas. Que soterram sonhos em vastos campos irreais. Que se encerram em invólucros de que não podem falar. Esses sabem que todos os dias as pedras se desgastam. Que todas as músicas se podem escutar. Que a luz do sol se entranha nos corredores mais sombrios. Quando a alma não é postiça. E o tempo que lhe é reservado...é uma insignificante migalha de riso. Uma frágil persistência que atravessa os séculos. Uma humilde espera. E uma mentira colorida pela esperança. Esses são aqueles que nada esperam. Petrificados. Roídos até ao tutano. Olham em volta e só vêem...um dia,uma semana, um ano. E camada a camada. Pingo a pingo. Evaporam-se. Dramáticas clepsidras dobando o jogo da vida...e da morte.