Os pobres deambulam pela cidade
Nestes tempos de abastança
Deambulam pelas ruas de Lisboa
Os rejeitados da sociedade
Tantos como nunca víramos antes...
Mulheres sem-abrigo
Vestidas com sacos de plástico,
Simplesmente pobres...sem nada...
Olhamos e não os vemos
Mas eles lá estão...
Alguns pedem esmola sem levantar os olhos
Como se a sua vida estivesse no chão
Como se a sua derrota
Fosse um peso sobre as suas cabeças
Esquecidos do mundo que os rodeia.
Nós temos medo de os olhar
Como se tivessemos medo da vida
Como se sentissemos uma sensação
De que podemos algum dia estar ali
Sentados no passeio...com a lata ao lado.
E se lhes tocassemos?
E se quisessemos ouvir a história da sua vida?
E se lhes dessemos um pouco do nosso tempo?
E se lhes procurassemos aliviar as grilhetas?
Achamos que são bêbados ou drogados
E não achamos anormal a desolação humana que representam...
Dormem nas entradas dos prédios
Nas entradas de onde não passam
Nas entradas onde entra o frio e a fome é companheira.
E há os loucos...
Perdidos no seu inferno demente
Fechados ao mundo
Perdida que foi a chave da razão
Nada existe fora de si
São eles o seu próprio universo...
Outros pedem esperança...
Dizem com os olhos:
Preciso de pouco para estar no teu lugar
Preciso apenas da oportunidade
O resto deixa comigo...
Que eu farei a mesma rotina que tu
Sairei para o emprego
Despirei as roupas do desespero
As minha feridas não mais sangrarão
E guardarei no armário este sobretudo esfarrapado
Como recordação destes tempos insanos!