Os segredos do mar
Despedaçam-se os dias em pedaços de mim
Absurdas sombras agarram-se aos meus olhos sonâmbulos
São como estrelas equilibradas na confusão dos sentidos
Ou como gaivotas esvoaçando pela minha alma dispersa na tarde que cai.
Atraem-me os espaços abertos na férrea vontade de gritar
Atraem-me os inconsoláveis muros do silêncio
A custo descubro mais uma anémona de cinza
A custo embarco nesta inutilidade de treva e sal.
A custo me consolo de ser apenas...luz.
E assim chego ao ventre das coisas pousadas nos mantos do mar
Assim me afasto da tona das praias
Como se me acendesse num fastio de Vida
E me curvasse ao instante em que nasci
Para ser apenas mais uma gota de água....
A escorrer pelas escamas do tempo.
Ah! e aquele céu tão incerto
Aquela vertigem de sonho sepultado
Aquela ternura de deus alado
Aquele inútil campo deserto.
E eu...
Saltimbanco de instantes cravados no fundo indiferente do lago
Procuro apenas a cinza de um consolo
Procuro apenas o búzio silencioso
Que me conte os segredos do mar.