Os vapores do céu
Trepidam as luzes
Que se recolhem das borrascas perdidas na poeira
Há violetas alucinadas
Que se espalham pelos ínfimos espaços
Pelas sarjetas escorre a náusea da noite surda
Há luzes...corpos
Perfurações de sombras em camas invisíveis
Há pátios esconsos onde se recolhem luzes vegetais
E os eclipses ganham a tonalidade dos lagos
E morrem bruscamente numa paisagem florida
Os pássaros vêm debicar os restos das mulheres adormecidas
As sombras espalham-se como uma gravura de tinta da china
Sobre as bocas silenciosas
Os candeeiros debitam uma luz esverdeada
Solene e baça como um bater de asas
E a garganta sufoca a náusea
Embriaga-se a diluição dos olhos numa incomensurável neblina
Há vómitos que adormecem sobre a erva fresca
E receios que só acordam depois da submersão dos corpos
Enquanto nós sangramos a loucura
Até vergar o tempo irreal
Ignorando o agitar das palmeiras
Ignorando toda a chuva que nasce do voar das aves
Ignorando os nossos corpos líquidos
Sentados numa espera de jardins sem receios
E vamos caminhando por uma rua sem futuros e sem olhares
Uma rua onde em cada canto espreita um sol que sabe a pão
E nos alimenta os vapores translúcidos
Que nos transportam aos céus!