Paisagens irreais
Respiro fundo sob a chuva que cai num domingo distante
Os meus pés pisam a frágil neblina que me agarra à vida
No fundo do mar poisa o meu silêncio
E há séculos que possuo o abandono das madrugadas.
Por vezes disperso-me numa imensa superfície povoada por ossos
Erráticas névoas poisam sobre a vastidão profunda do silêncio
Mergulho em olhos que me penetram as veias
Oiço sempre o meu caminhar
Olho a estante onde os livros
São como roupa estendida sobre razoável ironia
Há tantos livros abandonados
Tantos homens cheios de insignificante soberania
O meu destino é deixar-me conduzir pelos teus cabelos
Mergulhar na infância dos dias
Dilatar a minha inconsciência de ser apenas um poiso de ave
E ser leve como a espuma
A minha casa não tem nome
É apenas um xisto absorto na contemplação da chuva
As minhas pegadas são falsos despojos de mim
São poeiras que invento para que me sigas
Os meus dedos lembram-se de descobrir caminhos
Onde silvam milénios feitos de papel
Tecem escorpiões no encantamento dos dias
Bebo esse veneno azedo que segue
Sob a implacável cegueira dos dias
É tudo um torvelinho..uma travessia
Uma emboscada feita de solidão
O mar seduz a sabedoria das águias
A madrugada caminha pelo lado inclinado do tempo
As feridas...são silêncios mortais
Leves ...como paisagens irreais...