Palavras doces
Estás comigo como uma árvore antiga
Cujas folhas têm o tamanho das sombras
E cujo perfume encanta os meteoros tormentosos.
Que belos... vagueiam pelo céu
Onde estão ancoradas as minhas confidências
Numa almofada feita de terra e raízes
E porque não posso mais dissimular a noite
Que a tua ausência me trouxe
Tu sabes bem o que são as portas fechadas
Imóveis nas suas dobradiças ferrugentas
Tu sabes...como sempre soubeste
Que os troncos arrastados pela corrente
Vão em deriva dar às auroras
Que aprenderam a calar-se
Dissimuladas em flores frias
Sabes...porque já me disseste palavras doces
Já me contaste que o tempo afundado nas areias
É um vício de espuma morna
E que as páginas de uma solidão imperfeita
São a concha onde a paixão ganha asas
E onde os homens se fragmentam em olhos e carne
E dores vorazes
E que um dédalo de assombros efémeros
É apenas um fio de água
Capturado nos olhos de uma ave ofuscante.