Palavras soltas #10
I
Às vezes envelhecemos num minuto
Às vezes num segundo somos luz
Às vezes perscrutamos o azul profundo
Às vezes tateamos o absoluto
Às vezes reconhecemos por entre a chuva
Os passos sedentos de asfalto
Há uma noite...uma só...ou talvez nenhuma
Em que as nossas mãos se tocam
Como os corpos sofridos do basalto
E se as lâminas gravam rostos nas ruas empedradas
Se os sonâmbulos dilaceram flores de cobre
E se há uma boca seca nas searas já ceifadas
Também há plantas virgens a crescer na terra do alfobre
E a morte anuncia que a vida se descobre
No couro da memória alforjada.
II
Da janela de trás vejo o jardim e o gato
Vejo a velha figueira e novo cacto
E vejo pendurado no céu...
O meu retrato...