Pandemias que assolaram o mundo – A Peste Negra #1
Podemos agradecer aos vírus e às pandemias o facto de ainda não termos destruído o planeta. São de facto que ao longo dos séculos, quem tem contribuído para o controle da população mundial.
Hoje vou iniciar uma série de textos sobre as maiores pandemias que assolaram o mundo.
Pandemias que assolaram o mundo –A Peste Negra
O cronista do Papa Clemente VI conta: “ No ano do senhor de 1348 aconteceu em quase toda a superfície do globo uma tal mortandade que raramente se tinha conhecido semelhante. Os vivos quase não conseguiam enterrar os mortos, ou os evitavam com horror. […] Muitos ainda, que contraíram esta doença e dos quais se acreditava que morreriam imediatamente sobre o chão, foram transportados até à fossa de inumação,e assim, muitos foram enterrados vivos. […} o medo integrou-se na mentalidade colectiva, deu origem a fenómenos sociais e religiosos, como as procissões de penitente flagelantes e inspiraram obras de arte marcadas pelo macabro. O Sétimo Selo de Ingmar Bergman, mostra como o medo da morte dominava o quotidiano dos europeus no tempo da peste.
No século XIV a Europa esta infestada pelo rato preto. Os ratos preto extremamente sensíveis à Yersinia pestis, contaminaram através do sangue , as pulgas que os parasitavam e que depois transmitiam através da sua picada aos humanos. […] a peste bubónica matava cerca de 60 a 90 por cento das pessoas cinco a dez dias após a contaminação. No entanto havia mais duas variações da peste. A peste pulmonar e a peste septicémica. A septicémica era a mais fulminante , morte cerca de três a quatro horas após a contaminação. A pulmonar a mais devastadora, porque o seu contágio era feito através do ar. Após dois a três dias de incubação não havia a mais pequena esperança para a vítima.
Hoje sabe-se que a epidemia já grassava na China em 1331 e até 1393 reduziu a população chinesa de 125 para 90 milhões de pessoas. Da China seguindo as rotas comercias, chegou a Samarcana,( Uzbequistão) em1338 e em 1346 chegou ao Mar Negro.
Foi na feitoria genovesa de Caffa,( actual Feodossia, na Ucrânia), que ocorreu a primeira utilização documentada de armas biológicas da História. Em 1345-1346, a cidade estava cercada pelo mongóis devido a um conflito comercial com os genoveses. Quando o exército mongol foi atacado pela peste e deixou de ter forças para manter o cerco, os comandantes decidiram atirar os cadáveres dos seus soldados, por cima das muralhas para contaminar os seus defensores.
As galés de Génova levam a peste de Caffa para a feitoria de Pera (actual Beyoglu), às portas de Constantinopla,(hoje Istambul). […] A peste espalhou-se pelas margens do Mar Negro e do Mediterrâneo. E infectou o Egipto, Síria, Palestina, Líbano., Chipre Creta, as ilhas do mar Egeu e chegou à Grécia. Em 1347 a peste já estava em França, chegou depois a Portugal em 1348 onde dizimou entre um terço e metade da população portuguesa. Reinava então em Portugal D. Afonso IV. Logo no verão de 1349 o rei enviou uma circular régia a todos os concelhos para fazer frente ao abandono dos campos, à migração para as cidades, ao aumento dos preços, à vadiagem,à mendicidade e ao crime.
Houve depois vários surtos de peste bubónica em Portugal, um desses ocorreu em 1384 e salvou Lisboa, de ficar nas mãos do rei Juan I de Castela. Este tinha invadido Portugal para fazer valer os direitos de sua mulher D. Beatriz filha e herdeira do rei D. Fernando. A defesa da independência nacional era encabelada pelo Mestre de Avis,( futuro D. João I). os portugueses resistiam com dificuldade ao cerco, até que, (conta o cronista Fernão Lopes) “começou de se atear a peste tão bravamente neles, tanto por mar como por terra, que dia havia em que morriam cento e cinquenta e duzentos, de modo que o mais do dia estavam os do acampamento ocupados em enterrar os seus mortos.[...] Nisto deram dois inchaços à rainha, por cuja causa determinou el-rei partir-se logo do cerco”. ****
E foi assim a peste negra que começou onde? Na China.
**** Baseado no livro de João Ferreira - Histórias Bizarras de um Mundo Absurdo