Pardas tardes
I
Pardas tardes alongam-se sobre a liquidez dos dias... nos bosques dançam vestais...
Nuas como seda pura...
As sombras vibram com as águas que escorrem em espasmos de cansaço
É o Outono...e vejo a cosmicidade de um desejo deslumbrado...
Magia misturada com vento
Nada é real... eis aqui a originalidade do mundo... tudo é inexplicável..
Os desejos e até aquelas colinas bravias... são nossa criação...
O decote para onde espreitamos a realidade...
II
Alongam-se os céus numa prece imaculada
As árvores adquirem as nossas almas...
Outros como nós dançam dentro delas...
Turvas almas que dançam... como canibais de peito descoberto.
Dentro dos quartos os tectos desabam... as fotos perpetuam a tristeza...
Os corpos entumescem
O nevoeiro é uma humidade que sopra sobre a poeira translúcida...
Brancos lençóis suspensos na corda... enfeitam os caminhos dos que trabalham
Picam-lhes a alma como facas gigantes...
Ou como palavras que vibram num inexplicável silêncio.
Eis aqui o lugar onde vivemos...
Eis aqui o lugar onde o êxtase é uma luz inerte...
Ressoando nos corpos gastos!