Partamos
Longe de mim ser um santo imaculado
Rejubilando pelos dias tediosos
Antes um diabo...um corpo magro
Antes um excomungado
Antes ter sobre a minha cabeça
Todas as espadas e todos os dramas
Antes ter os dias multicolores...vogar no infinito
Saudar o nascimento dos corações
Antes atirar o meu corpo sobre as flores
Ser naturalmente o vento da manhã.
Longe de mim ser um santo imaculado
Benzendo os dias bruxuleantes e danados
Venham a mim as carnes...as fadas e as praias
Os sarilhos e os andarilhos
Venham a mim os que vivem
Venham a mim as sedes
Os infernos...as penas capitais
E todas as capitais de países que invento
Socorrendo-me de um globo rachado
Venham a mim as esféricas mesas sem contornos
Onde nos sentamos bebendo fogo
Venham a mim os luares....os travesseiros
As novas formas de amar
E quero também ervas e alucinações
E deveres incumpridos
Fora com a moral
Fora com as mãos que nos sufocam
Fora com os sagrados deveres....
Onde estão as mãos amigas
Que me atiram ao chão?
Onde estão as mãos amigas
Que não me querem amparar?
Onde estão os júbilos astrais
E os carnais...e os ancestrais?
Partamos...
Desfraldemos as nossas velas raiadas de auroras
Temos tantas bocas e línguas para descobrir
Tantos corpos amáveis para amar
Suados...despovoados...feéricos
Que não podemos perder mais brisas matinais...
Eis que aqui está presente
A glória de ser apenas corpo
A glória de deixar embarcar a alma nesse veleiro
A glória de perder a alma nesse nevoeiro
Baço...gordo...dispensado de luz.
Porque não é precisa luz
Porque tu és a luz...e eu...o diabo mágico
Que te raptará...para o paraíso do pecado
Onde os anjos me chamam santo...maculado...