Passo por ti...
Passo por ti... devagar
Passo por ti... por entre as luzes finas de uma tarde absorvente
Passo por ti... por entre a métrica de uma espuma que invento
Passo por ti... e fico... a ver-te... sem que o saibas
Sei que és aquele parco instante onde as minhas mãos se acomodam
E és também a janela por onde espreito as rotações do mundo
Olho o teu gesto que absorve o limiar das correntes
Olho a recta real... desatenta... dissolvida na lonjura de um tempo sem princípio
Abaixo-me e colho a flor rubra.... derramada pelas longas tiras do sol
Ofereço-me um pouco do teu caminhar
Descrevo-me em rostos que desconheço
Revejo-me na loucura das aves...sou uma ave... ou uma pétala rodeada de silêncio
Cavalgo pela inutilidade da esperança
Dentro de um cíclico galope... como calcasse uma trave mestra
Transformo-me num digno sucessor do Destino
Não sinto a inconveniente desesperança
Sou o fumo branco que se ergue na magia da tarde
Apenas porque sei.. .que amanhã... há mais um dia para colher....