Pecado
Na pedra e na cal respiram as mãos do tempo
Nos terraços alargam-se os horizontes das pupilas
Como um perfume de cidade parada sobre a nossa densa vida.
É a noite... é o florir da alma...
É vento que se enrosca em nós
E desfaz os nós do ninho que nos liga à vida
E o vento tece em nós o rosto de um cavalo a galope
E o vento divide-nos
E somos pranto e água a divagar
E vamos pelas correntes dos labirintos
E erguemos mastros que se eriçam com a dúvida do destino
E ligamo-nos a todas as coisas que há nas trevas e nas areias
Como uma rocha pura
Como um chão calado
Como uma luz exaltada e solitária
Rezando pelas asas dos promontórios
Onde nos esperam mais passos e mais jardins de alabastro
Desenhamos círculos doidos...em torno de nós
Numa geometria inconsisa e demente
Além disso...
Sabemos que iremos rolar como uma imensa luz
Como um corpo liberto das sombras e dos ciprestes
Como uma luz fresca
Como um pecado sem originalidade.