Pedra a pedra
Ergo-me de encontro ao mar como se ele fosse música
Pobre mar que só te afastas e nunca me trazes a constelação de luzes que procuro
Sou como uma ave a viver na fundura das asas de um nevoeiro
Ergo as minha garras e cheiro o meu abandono das coisas
Ando no silêncio como um sonâmbulo a percorrer abismos
E à luz dos candeeiros desembaraço-me das encruzilhadas
Onde me esperam as aflições dos dias.
Na pele das plantas... rasgar o lodo...começar o grito...
Percorrer a chuva como quem quer ser alguém
Aqui ou em outro lado qualquer.
Deixo que o suor me escorra das mãos
E peço ao vento que leve de mim o espectro branco da saudade.
Pedra a pedra se constrói um véu
Pedra a pedra se alisam as lágrimas de punhal
De pé se escutam os rasgões do silêncio
Quando tudo pode ser...quando tudo se pode desvendar
Quando uma nuvem se disfarça de fantasma e nos castra os olhos
Não há céu..nem morte...nem dor...
Apenas cinzas...
Nunca mais deixes que os meus passos se estatelem no ritmar das algas
Protege-me com os teus dedos de noite
Inventa-me na inflamação das tuas mãos
Como se eu fosse a vida...de que me perdi...