Pele
Começar pelos teus olhos
Extinguir-me em ti
Entreabrir a porta do teu amor
Espreitar a sombra anilada do coração
Abraçar-te..pintar os teus ais com cores de sufoco
Mas aquilo que sabia...já não sei
Porque aquilo que eu pensava que sabia
Era apenas a vidraça da mágoa
A encobrir os meus olhos
Era o sol que brilhava
Na névoa das minhas queixas
Era o debicar do mar aguçado pelo vento
Era um sonho lento e fugaz
Uma despedida de domingo.
Deambulo pelos tons cinzentos
Cinjo a minha face à urgência de ser nada
Soltar a alma...descansar o corpo
Partir e voltar dentro de mim
Sentir a sonoridade de uma emoção
Um fogo urgente a crescer pelo vento
Olhar a profundidade de um céu recortado por silêncios
Dizer que a vida desce pelas colinas exaustas
É demais...a vida
São tantas as despedidas
E tantas as searas
Que a minha voz se esqueceu de te chamar.
Na pedra onde me sento
Coberta de líquenes doirados
Há uma voz de sangue
A conspirar dentro de um imenso sonho.
Desfolho emoções
Bebo o estalido dos meus passos na erva rasteira
E depois vejo a sala...o sofá
A vida sentada na televisão
E o mar a esperar pela geada
A cobrir as margens
Com a alegria sonora das gaivotas
Abro a janela...o relento entra em mim
Entranha-se na côr branca das paredes
Fala-me do cerne das águas
Que correm sem nunca encher os rios
Fala-me do silêncio das ramadas ao sol
Felizes...bruscas e plenas de idade
E há também a aurora
Essa conquista da luz e do segredo
Esse prometimento de um novo dia
Esse palácio por onde escorrem flores vermelhas
E há manhãs de escombros
Súbitos desabares de cidra
Cavalgadas de rubros archotes
E há uns dedos finos
Descansando numa pele de tempo...