Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

folhasdeluar

folhasdeluar

Permitam que me retrate

Permitam que me retrate. Sou a alça que se prende à exatidão de um labirinto. Comecei como uma onda que se perdia na rudeza de uma falésia. A minha dor acumulou-se em camadas de fantásticos delírios. Perdi-me como quem dança um tango. Bebi como quem encontra um amigo. Não sei bem porquê...mas todos os dias nascia um paraíso no meu bolso traseiro. Bastava-me alcançá-lo com a minha incoerência de corpo desabitado. Vi realizar os mais doces sonhos. Acabei sonhando que sonhava com a alquimia de um sistema planetário sem dor nem mácula. Era uma forma diferente de dizer que dormia dentro do sonho. Quando olho para alguém...sinto que ali vive um caleidoscópio de cores berrantes. Algo assim a atirar para um paradoxo complexo como um quadro de Vieira da Silva. Às vezes, no fim do dia, deito-me de costas sobre a cama e distraio-me com o esvoaçar de alguma mosca que me espicaça a imaginação. Esta mosca não pensa em aventuras e muito menos em literatura. E eu também não!

 

Tenho uma vida policromática. Algo assim a atirar para a ausência de senso. Não me preocupo com presunções nem com a sobranceria do futuro. Os outros vivem. Eu, perspectivo assimilar a roda do tempo. Ser um rio ou um caudal de estrelas maciças. É também uma forma de apoiar a alma na desordem do universo. E depois...realizar o meu grande sonho... ser um cometa cristalizado numa anémona.