Personagens fáticas
Aqui estamos nós...construtores do impossível..
Como mãos feitas por plurais imperfeitos
Aqui estamos nós...dois olhos...veias...
Onde circulam todas as tentativas de amar
Aqui estamos nós...acreditando em perdões...
Derretendo-nos em loucuras de açúcar
E inventando crenças e romances...
Recriamos palavras aprendidas num qualquer poema de Sophia
Somos todos Sophia...verdadeiras personagens fáticas...
Tentando acreditar na imaculada estranheza das pessoas
Que juntam as mãos em forma de coração
Mas somos ainda mais...
Somos aquela parte da gramática em que os beijos se afogam em silêncios
E aquela parte dos nossos medos que nos impedem de dizer
Pele...arrepio...fome de ti
E seguimos como navegadores
Em busca de sereias que não gostam de ilhas...sereias matinais
De olhos perfeitos
E corpo em forma de luz desprendida do fundo do mar
Também cobrimos as fotografias com beijos antigos
E filosofamos...
Sabendo que há apenas uma vida para tanta vida que há em nós
Somos o papiro em que descobrimos a nossa história escrita nos séculos
E somos pele feita de água...pele alada...aguada.
É um erro pensarmos que o tempo nos respeita...
Que se enternece com as nossas mãos apertadas em torno de si próprias
Mesquinhas...
Sôfregas de segurar as singulares construções dos corpos...
As suas imperfeições e os seus mistérios.