Pés descalços
Acumulam-se os tempos nos rostos dos oásis
Lambemos os corais incalcináveis
Somos a língua enfurecida
Minúsculo deserto inacessível
O sonho prolongado
Utilizamos chaves falsas...mortes próximas
Cidades nómadas...somos cometas de chuva
Enfurecemos as geadas
Procuramos a cosmicidade dos dias
Gaze nos pulsos cortados
Lentamente mergulhamos num caos límpido
Fulgor de constelações maravilhadas
Esguias silhuetas perseguem-nos
De rua em rua...de chuva em chuva
Na acidez de lodos ignorados
Abrimos quiosques na perfeição das flores
Perfis de sonhos prolongados...escuridão
A lua lambe-nos as mãos desertas
O rosto aproxima-se do zénite
A vida está próxima
Não queremos recordar
Queremos ser um cosmos em ebulição
Uma palmeira numa tempestade de areia
Uma alucinação bebida num chá de mandrágora
Apagar os olhos...preservar os lodos
Plantar constelações de giestas em flor
Lentamente...como um rosto amado
Um passeio íntimo...uma metamorfose de fogo
Feita de um excessivo branco celestial
Ou um corpo com medo dos desejos
Como se fosse uma cerejeira florida
E desfocada a atravessar a noite...
Enquanto nós seguimos pela vereda vestida de saibro
Usando os nossos pés descalços!