Por alguma razão o tempo alisa o peso da memória
Por alguma razão o tempo alisa o peso da memória
E também o escuro peso da vergonha
É largo o céu que se fecha ao fim do dia
Ausência de tempo atacado pelo esquecimento
São longas as pálpebras que murcham nos corpos
E tão bonitos os suicidas das manhãs
Invento uma crença...quero ser uma suspensão de ar
Uma mirrada carne esbaforida
Mortal dia de onde brotam lagoas encurvadas
Onde poisam graciosos abutres enfastiados
Copa de árvore ausente da manhã
Culpa de ser mensageiro da imortalidade
Inventor de infinitos campos estrelados...imortal
Ser imortal é ser folha seca
Secura que paira numa ave encharcada de chuva límpida
Não há moscas...ninguém se estrangula
Todos pairam num tempo escuro...
Quem nos ataca de madrugada não se esquece de nós
Risos de morcego alado...lunar
Culpa que desaba de uma nuvem sem substância
Saltitar de encostas celestes
Afinal mesmo mirrados estamos vivos
Enterrámos o silêncio numa orgia milenar...lupanar
Caímos...e o baque do nosso corpo é um fragor fenomenal
Uma coisa triste...um charco
Algo que receamos...
Como aos insectos que nos estrangulam...completamente
Talvez a terra nos encerre num fogo latente
Lamparina vulcânica...profundo contemplar de nós
Mas onde iremos enterrar os ruídos?
Onde desabará a chuva cristalina?
Crosta decepada...costa marítima aflita
Sombra vertical...meio-dia estrangulado
Tombados numa letargia de assassino
Como troncos decepados...
Como sentenças embriagadas
Ou como cordas soluçantes
Balanço de mensagens gigantes
E nós dobrados sobre o medo
Escutamos apenas a fria mensagem pregada na parede
Foto em sépia de ancestrais rostos
Frias pálpebras cerradas pela sepultura
Ali estamos!