Porque não tenho sonhos.
Tenho todo o universo perante mim
Como uma praia deserta
Esperando a marca do meu pé na areia.
Recreio-me nessa visão sem fim
Porque não tenho sonhos.
Os meus sonhos incendiaram-se...fugiram a galope...
Cavalgando uma nuvem com asas de anjo,
Foram em todas as direcções...
Restam-me as vibrantes e sinistras palpitações da alma.
Sigo-as nesta estrada a grande velocidade,
Persigo-me..mordo os meus calcanhares...
E como tenho um olhar insano e magro
Poisado num rosto alucinado
Os meus olhos deitam chispas
Como um comboio a lançar faíscas nos carris.
Ganho asas... ganho uma vida em segunda mão
E lanço labaredas como quem abre caminho
Em direcção à fonte da vida...
Não me detêm as cidades..as pontes...as serras...
Sou chuva miudinha...vento lamentoso...um êxtase ignorado...
E ensaio uma dança ardente,
Enquanto me vou dissolvendo em fumo...
Dispersando-me no ar!