Sei que o tempo é feito de uma música mineral..
Sei que a doçura do teu olhar contem o jorrar da luz e o voo das aves
Sei que o tempo é feito de uma música mineral..
Morna como as horas que dormem nas folhas que vagueiam pela areia
Os dias passam como se fossem cinza..
O sangue petrificado das praias é um enorme vazio..lunar
Penso nas coisas reduzidas a simples versos...acompanha-me a exaustão da luz
Que ventos perderia se me sentasse contigo junto ao mar?
Que ruídos se esboçariam na nossa pele se tudo se silenciasse?
Reclino a cabeça sobre as horas..lentas horas onde perece o meu olhar
Sei que posso juntar-me às chuvas e recomeçar a vida em todas as gotas
Posso sentir que caí de um pedestal com tamanho suficiente para esburacar o sangue
Desfilo nos limites do absurdo..como se me sentasse sobre uma geração oblíqua
Percorro todos os claustros..passo as mãos por todas as lâminas
Sonho que os meus passos se recordam desse tempo sem vestígios
Estou aqui...mas solto o meu corpo em todas as direcções...será isto possível?
Será que ainda escuto os uivos da infância?
Poucas coisas me afligem..
Mas o sol que me cabe nas mãos ..é uma inconsistência da imaginação
À minha volta sinto o alheamento das estrelas..ergo a fronte...Thémis olha-me fixamente
Talvez em breve o meu corpo repouse numa arca de cânfora
E as minhas palavras sejam... afinal... apenas mais uma ponta das estrelas
Piso a lama...ignoro a gramática...converso com os mares...faço companhia a Poseidon
E nas conchas renasço...