Quando nascem flores nos meus olhos
Nasci para ser eu
Não nasci para ser um fato talhado à medida de outros
Nasci de uns olhos claros
Habitei o silêncio e fiz de cada coisa uma intimidade
Não regressei nem parti de qualquer lugar
E vivo a abraçar a estranheza de mim
Conheço a força clara do mar
E bebo da terra os sonhos quebrados
Colho tardes planto oásis
Nasci como uma secreta vela que embala as tardes
Guardo intacta a memória da primeira brisa
Guardo intacta a memória do primeiro abraço
Possuo o êxtase de uma onda a derribar na praia
E a mágoa branca de uma estátua pura
Por vezes perco-me na claridade da paisagem
Por vezes perco-me na exacta proporção do tempo
Sou maré de mundo e solfejo de mágoa
Sou a espera serena o linho branco
Devoro o tempo como ele me devora
E a mim próprio chamo bóia de salvação
Quando oscilo nos braços frios da dúvida
Quando uma auréola de olhar cai sobre mim
Quando nascem flores nos meus olhos.