Que ditoso será o amanhã...
Amanhã será outro dia...será o dia em que a chuva vai arder
Será o dia em que os trovões vão estender o pescoço para a terra
E os meses vão estreitar entre os ramos das árvores a poeira cinza do verão
Nada escapará à tempestade que repicará como um sino feito de girassóis
A chuva lavará as roupas que estremecerão de prazer
As fogueiras terão asas feitas de tábuas planas com equimoses
As impurezas esbranquiçadas entrarão silenciosamente pelos espinhos
Gota a gota...entranhando-se pelas escamas dos peixes que sobem os rios
E os espantos dirão que dos mapas das cidades escorrem sombras anémicas
Não haverá sinais nem homens-foguete
Não haverá atenções voltadas para Abril
E para espanto geral os sons sufocarão as letras... que fugirão correndo.
Amanhã será outro dia...será o dia em que as existências comerão patas de cavalo
As almas simples tirarão a pele às estrelas
E as portas afogarão o riso em peitos ogivais e cúmplices
O tempo profundamente transtornado mostrará uns olhos ameaçadores
As feridas farão visitas de passagem pelas almas dos girassóis
Os bálsamos arderão num futuro luzidio como a idade das crianças
Enquanto furtivamente os acasos da redenção espalham rostos sufocados
Penso que ditoso será o amanhã...
Que me trará um outro novo dia...