Que rua escolher?
Sigo por uma rua pensando sempre que posso seguir por outra. Aspiro os aromas da rua. Faço desenhos de gigantescas tardes. Nas profundezas do olhar de quem passa vejo peixes aflitos. Escuto conversas. Alguém se prende a uma montra. Mais além... se entreabre uma boca. Ali está a indiferença. O ar é doce. A fragrância é doce. Centenas de respirações confluem num breve espaço de tempo. Tento fundir-me na minha própria respiração. Fecho os olhos. Mordo a minha vontade de tentar compreender a luta dos outros. E até a minha luta...que não sei se já perdi. Poderia sentar-me num banco de jardim e ler Sartre...ou afogar-me junto com os peixes do lago.
Passeio por este aquário de peixes estranhos. Marco desencontros. Pessoas ansiosas passam numa pressa compressiva. Não há nada no ar. Os pássaros não têm direito a viver aqui. Aqui...nestas ruas desagasalhadas.
Entrar no mundo é o mesmo que despir um casaco. É o mesmo que fazer rolar um cubo azul pela pretensiosa desatenção dos dias. Misturo-me com o ar. Levito num rodopio de fúria lenta. Exóticas alegrias agarram-me pela cintura. Mas há um dique entre mim e os caminhos que não compreendo. Se eu pudesse guardava a alegria no bolso...como quem espera o momento de pagar o tempo perdido.
São absurdas estas respirações com que me cruzo. São absurdos este fôlegos de vidas cansadas. São absurdas as borboletas e as flores e os peixes. Porque não sabem que estão no mundo apenas para viverem. E nós...que sabemos tudo isso...o que somos?