Que se quebrem os dias..
Que se quebrem os dias..e os perfumes dos corpos invadam as ruas
Que as vozes digam alma em vez de solidão
Que nos rostos vejamos os traços da poesia
E quando chegar a nossa vez...
Digamos que dividimos a desolação das horas pelas frinchas do sol
O dia volta..suspende-se clandestino pelo langor dos jardins
Do sono despertam agora os gritos da manhã...
E no bulício dos corredores..as fotografias lembram-se dos tempos da pobreza
Há nas cidades um frio entranhado nos rostos
Há uma imagem de crueldade em cada mão estendida
Enquanto as estrelinhas saltitam no céu invisível
Todas as noite haverá um suícidio de imagens disformes...
No fumo dispersado pela aragem veremos cidades
E nos alicerces das vozes veremos a miséria dos malditos
Veremos o voo da morte a ensombrar as paredes
Veremos as mãos desarmadas a limparem a ansiedade nos claustros das igrejas
Bailemos..bailemos dentro do nosso cativeiro...
Que todos os que bebem água pelas mãos..um dia serão sono e doutrina
Caminhemos..e que os nossos calcanhares pisem as guerras
Que o inverno beba em nós a agonia do frio
Sejamos distantes e desconhecidos poetas
E que os nossos passos se despenhem no mar...
Enquanto o nosso corpo vagueia pela nossa maldição
Dividamos as estrelas..uma para cada um...
Sejamos nómadas e esqueçamos os códigos dúbios da alma
É preciso estar de pé..reconhecer a bruma original das vidas
E erguer dentro de nós uma constelação granítica...