Quem sabe para que servirei
Esfrego os dias
Como se fossem um chão preguiçoso...inchado
Não navego em sabedoria nem invento mundos
Sei que só há um mundo...
Gozo as subtis manhãs no passadiço rente ao rio
Onde passeio a minha ignorância das coisas
Divagando como uma febre alta.
Não aspiro ao eterno
Nem me acuso de não prestar provas de sinceridade
Nasci como uma bruma
Como uma bebedeira tola
Ou como uma folha de tabaco
Que se fuma diariamente..sofregamente
Talvez um dia renasça noutra divagação
Talvez a minha cinza
Sirva os superiores interesses das ciências astrais
Talvez a minha cinza sirva para ser pintada
Como uma natureza morta
Talvez sirva para estupidificar as cores das tintas
Quem sabe o caruncho me habite como uma falsa filosofia
E eu me impaciente um dia e coma o Ocidente
Como se fosse um Cristo renascido num vasto campo de trigo
Ou como um vencido que ultrapassou a meta
Ou como um bastardo
Sem provas de filiação à raça Humana
Parece-me que isto é
Uma verosímil sentença de um tempo sem rugas
Parece-me que isto é
A mira de onde posso apontar como alvo o espírito dos vencidos...
E depois..que importância têm os paraísos?
Que prantos imemoriais caem dos olhos dos anjos?
Que provas tenho que acumular
Para ter uma visão dilacerante?
Não! Eu não cedo...
Sou livre de habitar o meu suplício
Mas tenho um desejo
Apenas quero que a minha alma durma
Rodeada de anjos que tocam trombetas de ouro
Cujo som me traga a subtil Visão
De um verdadeiro estado de Pureza...
Ou de um sonho sem mundos inquietos e imemoriais
Mas que contenham em si
Todos os dilacerantes minutos da nostalgia....