Quero beber os restos do dia...
Não voltarei a sentir o olhar que cintila nas aves
Hoje descanso a minha cabeça..onde a cada dia traço esquinas e metamorfoses
Quero beber os restos do dia...e amar o sangue das cobras
E...como se te amasse num abrigo feito de alfazema
Sei que nunca é tarde para contemplar a negridão das memórias
Nem mesmo para viver dentro do teu sonho
Serei como uma pirâmide que lateja no deserto..
Aliso a nudez do teu corpo com a coragem das adagas
Disparo olhares crus sobre o esplendor das chuvas
Cubro a cabeça com um leque feito de uma harmonia estranha
Um dia serei o faraó que voa nas asas rugosas das múmias..
Mas as intermitentes águas..cantam e arrastam as praias
Despedem-se das oliveiras...tecem tapeçarias de coral
Abatem-se sobre nós como flechas festivas...
São o presente e o passado de florescentes searas
Os carvalhos ainda se recordam do tempo em que o linho atapetava os campos
E a lua dormia nos vãos das escadas..ou nos bancos dos jardins...
Mas eis que a brisa azulada trás um odor a metal...
Uma foto feita de nostalgia....
Que rodopia ...como um sítio onde nada se esquece...