Rente ao mar
Um secreto perfume percorria o inverno
Musgos cresciam na despovoada tarde
As chaminés definhavam numa névoa de fumo
Tudo fazia lembrar o frio secreto das janelas
Onde brancas nuvens se espelhavam
Como retratos de pálida paz.
Rente ao mar...com olhos de renascer
Fecho-me num sol...agarro crinas das algas
E lá sigo...rasteiro...como a luz do farol sobre as águas.
O exílio das palavras cresce nas areias
Busco esse tempo que cai a pique sobre o frio
Em cada recomeço uma carnívora sensação
De estar a fabricar um mundo impossível.
Falo de um tempo feito em ilimitado firmamento
Falo de um mapa sonolento
E de um clamor de insónia...a percorrer o nebuloso silêncio
Do suão que passa em magníficos luares
Do pasmo das abóbadas de sombra
Da carnificina dos corais
Que paira no desânimo da noite.