Repuxos de amor
Enchemos os quartos com camas feitas de escuridão
Ignoramos todos os respirares
E todas as derivas que vivem nos baldios
Talvez encharquemos a cidade
Com o nosso voo feitos de repuxos em agonia
São as alucinações que vivem atafulhadas em memórias domingueiras
Que saltam barrancos
E olham os vulcões de onde brotam peixes insalubres
São lugares que as cores deploram
Lugares esconsos desenhados pela imaginação
Lugares que nos ignoram
Como se fôssemos pássaros poisados numa mão calejada
E lá vamos ...de lixo em lixo
Rolando como esferas verticais e atafulhados de ferrugem
Devolvemos a agonia aos peixes que vêm beber na nossa mão
Todas as vezes que as árvores derem frutos de lava
O nosso respirar conterá em si um abismo ofegante
E mesmo que esse abismo de feche
Numa agonia de cardumes em sangue
Que as noites se esfarelem nas nossas mãos
Que o nosso respirar coalhe no fundo do mar
Faremos a viagem até ao arco-íris
Seremos transparências de astros naufragados
Comeremos as memórias da terra revoltada
E escutaremos a via láctea a imitar palavras ferozes
Palavras a que as nossas mentes lúcidas e espantadas dirão
Que são repuxos amor
Iluminados por estrelas!