Resistência...
Despeço-me. Não escuto as vozes que me chamam para o sol. Arrepio-me. Já conheço os meus ecos. Já sei desviar os olhos. E também sei olhar nesses mesmos olhos. Coloquei um selo no absoluto. Revelei-me a minha misteriosa verdade. Revelei-me a minha obscura obsessão. Talvez um dia faça uma promessa. Talvez um dia me comprometa comigo. Talvez um dia satisfaça a minha lendária fome de deserto. E por mero acaso... convalesça... da sagrada vontade de rever a beleza de um remorso.
Reconcilio-me com o que mais me importa. É a minha arte e a minha defesa. É a minha fome e o meu desespero. É o meu infinito e o meu modo de amar as flores. Espero estar presente no concerto final. Espero atravessar essa luminosidade de abstrações. Colorir o súbito clarão do pensamento. A súbita alienação do tempo. A transcendência irregular da chuva. Por isso...volto os olhos para lugares que já não sei. Lugares onde se desencadeiam tempestades. Lugares de palavras ilícitas e deuses amargos. Lugares...onde os ecos me trazem violentos abanões de memórias. Mas onde ainda resistem os estretores do que sonhei...como se não houvesse piedade nos instantes. E a fatalidade fosse uma gruta perversa...onde se só se pronuncia uma palavra. Resistir!