Retratos
Retratos confusos. Rugosos. Retratos de brilhos secretos. Um frio sereno povoa os olhares. Uma névoa de vidro esconde-se na fuligem da sépia. Não têm perfumes. Não têm sentimentos. São como janelas viradas para o fundo da memória. Um silêncio vago atravessa os retratos. Guardam em si uma confusão de sóis esquecidos. E cortam os dias...como aquele inverno em que o longe nunca mais voltou.
Retratos feitos de primitivas cores. Retratos nus e espantosos. Incessantemente a lembrar-nos o nosso sussurro de nascentes coralinas. E tal como quem não regressa estão sempre ali...ali...ali...ali...e mais nada.
Retratos de espuma e espanto. Retratos de nítidas estradas. De cais. De grandes extensões de nós. Os retratos recordam-se do tempo em que não eram recordações. Os retratos surgem...de repente...por entre os instantes em que abrimos a alma. E partem...como se fossem grandes vagas de memórias que respirámos.