Sal e sangue
Era uma pedra preciosa...uma saudade
Um porão deitado num estreito mar
Agarrei-me a ela como se agarrasse o outro lado da rua
Caminhei...senti as primeiras chuvas
E o barro dos corpos ocultos pelas miragens
Avistei ilhas..separei-me do meu corpo
E esperei que a alegria acabasse
Pelas tábuas do soalho
Vi deslizarem cios e cantos de cigarras...noites quentes
Membros entrelaçados na milenar forma de amar
Subi ao esquecimento das águas
Senti a vibração opaca da alma
E foi como se avistasse a luz
Que irrompe do sono mais temido
Sono ou ar? Alma ou falésia?
Trigo ou vagas embebedando-se nos bordos dos navios?
Ácidos deuses esperam por nós
Rubros esquecimentos irão encontrar-nos
Avistaremos as sombras...os mastros...as sílabas..
Mas porque nos desviamos da alegria?
Porque evitamos essa pátria que se nos pega à pele?
Cansaço de mãos...
Sono perscrutando o ventre das espadas...cortantes frios
Nos mapas desconhecidos há ácidos cios..fomes...saudades
E ardendo no sol tactuado com miragens
Vejo espelhos...lumes...cascos...galopes
Vejo todas as coisas que ardem no medo
Vejo as raízes...as sementes...o frio do mundo
E vejo redes que pescam vidas calejadas por nevoeiros
Como muros de pedras desfazendo-se na água fresca
Paralisados em tons de ocre dourado
Como minúsculas certezas...
Como oxidações de almas ruborizadas pela fome
De ser sal...e sangue vivo...