São assim as casas...
São assim as casas... inspiram fundo como nós... lançam-nos para a rua...
Crucificam-nos nas paredes... suspensos nas fotos desbotadas
Seremos sempre os mesmos vivendo uma vida que deveria ser outra...
Deslizamos... neve e gelo absorvem a nossa queda...
Ardemos como janelas abertas às marés
Queremos entender o emissário extravagante...
Aquele que obscurece o nosso céu... aquele que explode em nós
Aquele que aflige... o nosso inverno.
Expelimos a nossa jactância ...
Como quem urina contra as paredes... numa sensação de apagamento
Mijo alado... amarelo...baço...feito de impropérios...
Entretanto...
A tarde escurece... baixamos os olhos... a neblina agita-se na alma... é o mar
São os barcos... cenários de vidas que ardem num corpo gravado na pedra
É preciso sentir a eflorescência das flores que crescem nas montanhas
Tocar nos cabelos sedosos da chuva... molhar a alma num silêncio cavo ...
E sentir...essa
Selvática chuva...cinzenta...intensa como um rosto velado
Molhando... aquáticos verões espalhados pelas marés...
Que nos dizem que a nossa voz soçobra ao tempo
Que estamos presos ao ar... que os candeeiros da rua nos queimam os olhos
E que.. .tal como o luar é colossal... a penumbra é uma estreita rua...
Onde nos cruzamos com corpos e mágoas...
E com sacerdotisas de um tempo ...inexistente
Que nos envolve num manto de vento
Que desponta sob o vasto espaço
De um fantástico fragmento de vida...
Que nos pertence!